Passamos o agosto esperando que o setembro viesse, mas como seria bom se ele chegasse de outra forma.
Uma análise nunca será bem entendida e realizada, quando a fazemos sobre o calor do ocorrido, sem nos afastarmos dos sentimentos mais caros que nos tocam.
Ao mesmo tempo, precisamos pensar de forma muito consciente e racional, não podemos aguardar anos e mais anos para tentar atuar pontualmente na adoção de medidas e, principalmente, de politicas públicas que possam alterar a realidade.
Desde a infância escuto sobre enchentes, mortes, pessoas desalojadas, que perderam suas identidades enquanto pessoas, em consequência de perdas humanas e materiais, sentindo-se afrontadas em suas intimidades pela força das águas, que buscavam seu percurso, seu leito, seu espaço.
Em meu caso, já passou mais de meio século e as mesmas consequências, dor e sofrimento, falta de solução, de políticas que resolvam, alterem, mitiguem esse cenário que tanto nos impacta, por momentos; pois, depois se torna mais uma situação que “irá por água abaixo”. Na verdade temos poucas ações concretas, objetivas, que alterem cultura, que alterem a nossa vida. Será que iremos aguardar outros 50 anos, ou mais; eu gostaria de ver essa mudança, sou otimista, mas tenho dúvidas que isto possa acontecer.
Até quando discursos e narrativas vãs, cobrando posições e definições de autoridades públicas municipais, estaduais ou mesmo do governo federal. Medidas paliativas, pós-fatos, para ressarcir prejuízos materiais, para restabelecer a “normalidade”. Haverá alguma ação que poderá restabelecer a vida das pessoas diretamente atingidas; nem ao menos se restabele a vida de quem está longe do problema.
Cobrar posições sempre é muito fácil, as pedras de ontem são as vidraças de hoje, que serão novamente pedras; àqueles que exigiam a presença direta de autoridades, celeridade de pronunciamentos, agilidade processual e administrativa; hoje respondem pelas suas prioridades e manutenção de agendas, muitas até dispensáveis, pela ineficiência das medidas administrativas, financeiras e operacionais, para fazer com que a água volte ao seu curso normal e de forma natural.
Enchentes, inundam nossos corações e pensamentos, deixam muita tristeza, mesmo após a água baixar seu nível; mas elas deixam, principalmente, o sentimento de incompetência enquanto sociedade, que quer subir aos astros e não consegue adotar medidas concretas para administrar o seu habitat. Não por falta de conhecimento, tecnologia, recursos financeiros e materiais, mas por falta de postura e gestão pública.