A década de 1950 é muito rica em fatos e ações que levaram a Brigada Militar a construir grandes mudanças. Por esta razão a decisão foi mencionar fatos deste período em mais de uma parte, pois o espaço destinado a coluna não permitiria a divulgação de todas as ações.
Os anos 50 são conhecidos como os “Anos Dourados” devido a revolução tecnológica ocorrida com a chegada do rádio e da televisão. Podemos comparar o período com o momento atual com a internet e as redes sociais. As mudanças atingem desde a economia, educação, produção de bens e vida social. É um período de escassez nestes pós 1ª Guerra Mundial, mas também de criação e reinvenção em todos os setores e a Brigada Militar não poderia ficar a parte de todas estas mudanças no mundo e no Brasil. O debate sobre desenvolvimento foi marcante tendo a segunda metade da década um grande avanço na industrialização brasileira tirando o Brasil da estagnação econômica e o consequente aumento na mobilidade social, pois iniciava-se a migração da população rural para as áreas urbanas. A população estava em torno de 52 milhões de habitantes e a economia saia do modelo agrário exportador para a industrialização
Tivemos nesta década quatro Comandantes Gerais que entenderam bem as mudanças e iniciaram um processo político, técnico e social das atividades da Brigada com as consequentes transformações saindo de sua fase bélica para atividades de polícia ostensiva não só pela solicitação da sociedade, mas de novos processos para enfrentar as necessidades da segurança pública do que com atividades de guerra uma vez que a população urbana aumentava e consequentemente os conflitos sociais. A compreensão da política da época foi bem administrada pelos Comandantes da Corporação uma vez que no Estado houveram diferentes ideologias de governo e a Brigada Militar teve sucesso em todos eles. Inclusive tivemos o Coronel Walter Perachi Barcellos que pós comando da Força foi Deputado Estadual, Ministro do Trabalho e chegou a ser governador do Estado de 1966/1971 pela Aliança Renovadora Nacional, ainda os Coronéis Venâncio Batista, Ildefonso Pereira de Albuquerque e João Carvalho Carpes. Todos de visão impar na administração, política e futuro da Brigada Militar. O efetivo da BM variou neste período de 6 a 7 mil integrantes entre Oficiais se praças.
Podemos citar neste período as seguintes ações e transformações na Brigada Militar em cursos, construções e reformas de prédios, cursos voltados as atividades de polícia, administração dos bens e serviço da Corporação oportunidade de utilização de terrenos da Força para os integrantes da Brigada, aquisição de armamento adequado ao serviço policial e maior investimento nos bombeiros não só em construções de prédios, mas em convênios e aquisição de material. A Brigada Militar queria se modernizar nas suas atividades pois era uma “Empresa” que se dedicava a fazer de tudo desde entrega de ranchos através de seus supermercados, como pães produzidos e entregues nas casas dos policiais. Possuía fábrica de confecções, fábrica de calçados, moinhos de arroz, fazendas, pedreiras, olarias, fábrica de mosaicos, lojas de calçados, restaurantes e serviço de transporte em ônibus para integrantes da Força. Ainda como serviço especial foram criadas as salas de cine-teatro no Quartel General e algumas Unidades.
Cursos e instrutores de Polícia
A instrução policial já era altamente considerada como se pode ver nas palavras do Cmt Geral Cel Venâncio Batista “O ramo da instrução policial é um dos que maior carinho tem recebido deste comando, pois sem conhecimento completo de suas árduas missões, o soldado policial, fatalmente fracassará.” ( BE de 03 fev de 1955). O policiamento já estava todo afeto a Brigada Militar e seus efetivos envolvidos nestas atividades desde guarda dos presídios, escoltas, diligências, buscas e prisões. Inclusive escolta aos trens pagadores que efetuavam este serviço.
Regulamentos e Códigos reformulados
Seguindo as mudanças sociais e de atividades da Brigada militar a estrutura básica jurídica foi toda reformulada. Em Lei 1.753 de 27/02/1952 foi aprovado o Estatuto da Brigada Militar. Em 18 Jan 1955 foi entregue ao Comando da Força o novo Projeto de Código de Vencimentos e Vantagens. Em 23 de janeiro do mesmo ano o Regulamento do Pessoal da Brigada Militar. E já no início do ano de 1955 retornou do Governo do Estado com a devida aprovação o Regulamento dos Cursos de Formação, Aperfeiçoamento e Especialização de Quadros da Brigada Militar que havia sido elaborado pela direção do Centro de Instrução Militar. Também foi criado os cursos de aperfeiçoamento como o Curso de Aperfeiçoamento para oficiais, criado pelo Dec. 4.963 de 18/05/1954 e de Especialização em Equitação, ambos em 1954. Cria-se o Regulamento do Promoção de Graduados através do Dec. 3.855 de 06/02/1953 preenchendo uma lacuna existente na promoção dos graduados. Na inclusão para passou a ser admitido só os reservistas.
As inaugurações de novas atividades, serviços e obras são de grande monta como podemos ver a seguir:
Engenhos de arroz da Brigada Militar
Em 31 Jul de 1954 foram inaugurados pelo Exmo. Sr. General Ernesto Dorneles, governador do Estado o Engenho de arros e Pavilhão destinado às seção de Ranchos do Estabelecimento de subsistência da Força. O moinho foi instalado em um dos antigos pavilhões do 1º BC e tinha a capacidades diárias de 175 e 60 sacos. O Pavilhão destinado a entrega de ranchos veio a sanar uma grande dificuldade da Seção de subsistência da Força. Foi construído com orçamento da Brigada Militar com 376 metros quadrados.
Hospital de Santa Maria
Em 19 maio de 1954 é inaugurado novo Hospital da Brigada Militar. Em Santa Maria. A parte técnica ficou na execução pelo Ten Cel Ernesto Krieger e o 2º Ten Solon Pelanda Franco que teve a maior parte da mão de obra executada por elementos da Força. A quase totalidade dos tijolos foi produzida na olaria do Regimento. Finalizando a inauguração teve o discurso do Governador e a benção do prédio pelo Ver. Bispo Dom Antônio Reis. A construção nova tem 1.790 m2, pois foi uma ampliação da enfermaria do 1º Regimento de Cavalaria que foi todo reformado em seus 590 m2. (Decreto 1217 de 18/10/1946). Prédio com equipamentos modernos, sala e enfermaria de cirurgia com 30 leitos, enfermaria clínica, maternidade e enfermaria com 15 leitos para doenças de pele.
Em 29 de junho de 1954 foi inaugurado o Pavilhão de Tisiologia.. O Pavilhão tinha o mais moderno aparelho de raio X da época.
Serviço de Material Bélico – Novo Edifício
Funcionando há vários anos na parte inferior do QG da Brigada militar em precárias condições de higiene e conforto, oferecendo uma constante ameaça à administração superior da Força no dia 05 janeiro de 1955 é inaugurado o novo prédio do material bélico na Chácara das Bananeiras (bairro do Partenon) com 1.050 m2.
Para melhor alojamento e conforto aos integrantes do serviço foram inauguradas na mesma data nove casas de madeira, também construídas pelo SMB para moradia dos cabos e soldados. Mas as mudanças não foram só estruturais, mas técnicas pois todo o armamento a ser utilizado foi adaptado para atividades de polícia e não mais de guerra. Foram feitas aquisições de revólver “Colt” importados diretamente dos Estados Unidos para os Oficiais e grande quantidade de revolver “Taurus” para o serviço de policiamento. Aquisição de volumosa quantidade de munição de calibre 22, 32, 38 e de cartucho 7,63 para as pistolas Royal. Grande quantidade de metralhadoras de calibre 45 tipo “Madsen” modelo brasileiro bem como farta munição. Recuperação de 59 revolveres doados pelo Departamento de polícia civil.
Museu histórico da Brigada Militar
Na data de 20 de janeiro de 1955 às 1500h é inaugurado o museu histórico da Força com presença de comissões de Oficiais das Unidade e Serviço da capital. O uniforme do dia foi o 5º desarmado. Foi instalado junto Sala de Armas na parte reformada do Quartel General.
Polícia Rodoviária Estadual
Criada por decreto 1.371 de 11 fevereiro de 1947, do governo do Estado somente em 24 de novembro de1953 foi efetivamente organizada na Secretaria de Obras e Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem. Por solicitação deste diretor do DAER o Governo do Estado atribuiu a Brigada militar a estrutura e organização que teve a dedicação do Maj Jorge Adão Fetter como diretor desta polícia.
Revista BRIGADA GAUCHA
Uma Revista criada como órgão oficial da Brigada Militar. Já nas primeiras três edições teve a assinatura de mais de 800 assinantes civis. Teve na figura do Capitão Ricardo Thompson Flores um nome expoente pois foi um dos organizadores que tornou realidade a criação da revista. A Brigada Militar passou a contar com uma revista moderna de perfeito acabamento figurando entre as melhores do gênero na época. Teve ampla divulgação dentro e fora do Estado e mesmo no estrangeiro.
Isto é um pouco das ações da década que vamos desenvolver mais para entender as mudanças na Brigada Militar.
Jorge Luiz Agostini – Cel Ref
Licenciado em História