Documento obtido pela coluna Na Mira revela que planejamento do PCC para executar policiais penais está ativo, principalmente no DF e em MS
Carlos Carone Mirelle Pinheiro METRÓPOLES
Há ao menos três anos, a fação criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) se debruça sobre planos para surpreender e executar policiais penais federais lotados em duas das cinco penitenciárias federais espalhadas pelo país. Em um documento sigiloso obtido pela coluna Na Mira, a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) destaca que os servidores devem permanecer em alerta máximo, principalmente quem estiver lotado nos presídios de Campo Grande (MS) e de Brasília.
O documento ressalta que o planejamento do PCC para executar policiais penais está ativo. Cada passo seria minuciosamente esquadrinhado pela área da facção conhecida como “Sintonia Restrita”, grupo devidamente responsabilizado pela alta cúpula do PCC para identificar, monitorar e executar agentes públicos.
Os planos ficaram conhecidos durante a Operação Sequaz, desencadeada pela Polícia Federal (PF) em abril deste ano. Na ocasião, faccionados planejavam sequestrar e matar servidores públicos e autoridades, inclusive o ex-juiz e senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que integra o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de São Paulo.
A operação
De acordo com as investigações, os ataques poderiam ocorrer de forma simultânea, e os principais investigados estavam nos estados de São Paulo e do Paraná.
Cerca de 120 policiais federais cumpriram 24 mandados de busca e apreensão, sete de prisão preventiva e quatro de prisão temporária, em Mato Grosso do Sul, no Paraná, em Rondônia e em São Paulo.
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O nome da operação – Sequaz – faz referência ao ato de seguir, vigiar ou acompanhar alguém, devido ao método usado pelos criminosos para fazer o levantamento de informações das possíveis vítimas.
Servidora assassinada
O caso mais brutal que envolveu a execução de servidores do Departamento Penitenciário Federal (Depen) foi o da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, 37 anos, em Catanduvas (PR), em 2017.
Ela foi assassinada por integrantes do PCC na frente do marido, um policial civil, e do filho, que tinha 10 meses à época. O crime ocorreu em um condomínio de classe média onde a família morava, a 55 km de Catanduvas.
Em 25 de maio de 2017, Melissa havia saído do presídio, passado na delegacia em que o marido trabalhava e, com o companheiro, seguido para buscar o filho na creche. A família chegou em casa por volta das 18h. Apesar de a psicóloga não notar, desde o início da manhã ela era seguida por criminosos, que se dividiram entre três carros roubados.
Após a abertura do portão do condomínio, minutos depois, um dos veículos dos assassinos estacionou no local. Dois criminosos conseguiram entrar no residencial e, armados com pistolas 9 milímetros, atiraram contra Melissa. O marido da servidora sacou a arma e revidou o ataque.
Mesmo atingido por oito disparos, o policial conseguiu matar um dos criminosos. Melissa saiu do veículo e correu para casa, mas os assassinos a alcançaram. Ela morreu com dois tiros no rosto. O filho do casal não se feriu.
Um dos bandidos fugiu, mas acabou morto pouco depois, em um confronto com policiais. Outros quatro envolvidos foram detidos em operação das forças de segurança.
O plano do governo para evitar sequestro e morte de policiais pelo PCC
O PCC segue com o objetivo de usar autoridades e servidores federais como moeda de troca para conseguir a libertação de Marcola
Portaria assinada pelo secretário Nacional de Políticas Penais (Senappen), Rafael Velasco Brandini, lança a estratégia de inteligência para combater um antigo plano da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC): o sequestro de autoridades.
Conforme a coluna Na Mira revelou nessa segunda-feira (13/11), o PCC segue com o objetivo de usar autoridades e servidores federais como moeda de troca para conseguir a libertação de integrantes da cúpula da facção, como Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, que cumpre pena na Penitenciária Federal de Brasília.
A portaria, assinada em 3 de novembro deste ano, determina alterações no transporte de presos de “altíssima periculosidade” de unidades que integram o Sistema Penitenciário Federal.
Dessa forma, as operações devem ser feitas com base em relatório de análise de risco elaborado pela Inteligência do Sistema Penitenciário Federal, em documento sigiloso e com autorização de saída assinada por um colegiado de no mínimo três autoridades da Senappen.
O intuito é fazer um rodízio entre os servidores responsáveis pelas transferências para evitar possíveis perseguições, sequestros e até mesmo execução de autoridades.
“Para efeitos desta portaria, serão considerados presos de altíssima periculosidade aqueles com alta probabilidade de evasão mediante resgate ou com indícios de envolvimento em atos preparatórios de ações hostis contra servidores públicos, altas autoridades e a segurança da população”, diz o documento.
Os nomes das autoridades responsáveis por assinar a autorização foram elencados em documento sigiloso. “As autoridades serão designadas de forma aleatória, periódica e individualizada para compor o Colegiado”, detalha a portaria. Elas também serão identificadas por códigos, como forma de preservar a identidade.
Sequestro e plano suicida
Conforme levantamento de inteligência, o primeiro plano elaborado pelo PCC, batizado de STF, consiste na invasão da Penitenciária Federal de Brasília. Contudo, uma grande muralha construída ao redor do complexo elevou drasticamente o nível de dificuldade em colocar tal plano em prática.
O segundo, chamado de STJ, inclui o sequestro de autoridades do Senappen e de seus familiares, para, em troca, exigir a libertação dos líderes.
A terceira e última opção seria uma “missão suicida”. A ideia era que o próprio Marcola desse início a uma rebelião dentro do presídio federal e usasse um policial penal como refém.
Anjos da Guarda
A raiz dos procedimentos de segurança adotados até a presente data pelo governo federal é a Operação Anjos da Guarda. A importante ofensiva deflagrada em agosto do ano passado colheu provas fundamentais para o trabalho de investigação conduzido pela Polícia Federal em conjunto com a Senappen.
À época, cerca de 80 policiais federais cumpriram 11 mandados de prisão preventiva e 13 de busca e apreensão em três unidades da Federação: Distrito Federal (Brasília); Mato Grosso do Sul (Campo Grande e Três Lagoas) e São Paulo (capital, Santos e Presidente Prudente).
Segundo as investigações, para viabilizar o plano, as lideranças criminosas fizeram uso de uma rede ilegal de comunicação por meio de advogados, que transmitiam e entregavam mensagens dos presos para criminosos fora da prisão envolvidos na tentativa de resgate e fuga. Pelo menos quatro defensores foram detidos.
Para tanto, os investigados valiam-se dos atendimentos e das visitas em parlatório, usando códigos que remetiam a situações jurídicas que não existiam. Cerca de quatro defensores do comando foram presos.
Transferência da cúpula do PCC
As lideranças envolvidas ingressaram no Sistema Penitenciário Federal em fevereiro de 2019, justamente em decorrência da descoberta, pelas autoridades do estado de São Paulo, de plano de fuga que, à época, já estava em articulação por tais líderes, então custodiados na Penitenciária Estadual de Presidente Venceslau II.