Bombeiros, policiais civis e militares, além de agentes do Instituto-Geral de Perícias (IGP) são beneficiados com atendimentos psiquiátricos gratuitos; iniciativa é promovida pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), e pela Associação de Psiquiatria do RS (APRS)
JEAN PEIXOTO GZH
Uma iniciativa do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), em parceria com a Associação de Psiquiatria do RS (APRS), está oferecendo apoio à saúde mental de profissionais da segurança pública envolvidos nos resgates às vítimas das cheias que vêm castigando o RS no último mês. Em Porto Alegre, bombeiros, policiais civis e militares, além de agentes do Instituto-Geral de Perícias (IGP) recebem atendimento presencial.
O psiquiatra e vice-presidente do Simers, Fernando Uberti, explica que já nos primeiros dias de maio, com o início dos alagamentos em diversas regiões do Estado, a entidade se mobilizou para montar uma rede de apoio. Inicialmente, o foco eram as vítimas, mas logo se expandiu para os profissionais que trabalham nos resgates.
— Não poderíamos nos esquecer dessas pessoas que atuaram na linha de frente, não apenas trabalhando nos resgates, mas os que seguem em ações de patrulhamento. Já havíamos feito isso na época da covid-19 e resolvemos fazer novamente — frisa.
Ele conta que mais de 2 mil profissionais da saúde se cadastraram para prestar atendimento de forma voluntária desde o início das cheias. Na Capital, o atendimento ocorre na sede do Corpo de Bombeiros Militar do RS, localizada na Rua Silva Só, 300.
No local, os profissionais da saúde se revezam em escalas diárias entre 8h e 20h para atender. Os agentes que precisam de atendimento entram em contato com a equipe dos bombeiros por telefone e uma consulta é agendada.
Para os agentes de outras cidades, a ajuda é disponibilizada via teleatendimento, na plataforma ShortMed, que conta com outras especialidades médicas também.
A ideia é ampliar os atendimentos presenciais colocando equipes também na Academia de Polícia da Brigada Militar e em algumas cidades do interior como Guaíba, Pelotas, no sul do Estado e Caxias do Sul, na Serra, onde há demanda e maior dificuldade de locomoção.
Aumento na procura
A capitã dos bombeiros Bárbara Siteneski de Oliveira, que atua junto ao grupo de trabalho que participa da inciativa, pontua que nos primeiros dias do projeto os agentes estavam tão envolvidos nas atividades de resgate e salvamento que não procuraram o serviço. No entanto, com o passar dos dias, a busca aumentou.
— É uma iniciativa muito positiva em termos de cuidado com o cuidador. Em um primeiro momento, como os militares estavam todos envolvidos nas ações, a procura foi baixa, mas conforme eles têm sentido a necessidade, eles têm buscado atendimento. Até tem nos surpreendido a busca deles — comenta.
A oficial ressalta que o atendimento à saúde mental dos agentes é preventivo e pode evitar situações futuras.
— O tempo de trabalho dos bombeiros é muito grande, sendo que às vezes as suas próprias famílias estão passando por dificuldades e enquanto isso, eles estão trabalhando em prol da sociedade, salvando outras famílias.
Reforço bem-vindo
O Coronel Régis Reche, diretor do Departamento de Saúde da Brigada Militar, conta que mais de 800 policiais militares foram afetados e mais de 300 perderam tudo para a enchente. Ele reitera a importância desse reforço no atendimento à saúde mental dos agentes da BM tendo em vista que nem todos os resgates são bem-sucedidos.
— Essa preocupação com saúde mental é uma história de longa data de todo o nosso efetivo, tanto da BM quanto dos bombeiros, principalmente nesses períodos de catástrofes, fazendo resgates e encontrando corpos de vítimas. Isso causa um impacto muito forte nas vidas tanto dos policiais militares quanto das suas famílias — diz.
Reche sublinha que a corporação conta com uma equipe de 50 profissionais da saúde que prestam este tipo de atendimento rotineiramente para profissionais que são expostos a situações extremas, mas que durante os eventos climáticos, todo efetivo se envolveu de alguma forma em operações de resgates de pessoas e animais, o que torna o apoio do Simers essencial.
Também fomos afetados e continuamos trabalhando. Somos vítimas, mas também somos linha de frente.
CORONEL RÉGIS RECHE
Diretor do Departamento de Saúde da Brigada Militar
— Também fomos afetados e continuamos trabalhando. Somos vítimas, mas também somos linha de frente. Nossas famílias também foram prejudicadas financeira e emocionalmente. Entramos nessas águas para resgatar vidas humanas e de animais para amenizar toda essa situação de calamidade que vivemos — pontua.
O chefe de polícia do RS, delegado Fernando Sodré, acrescenta que após a equipe do Simers procurar a corporação oferecendo o amparo psicológico e psiquiátrico, a Polícia Civil passou a efetuar uma triagem dos agentes que precisam do acolhimento.
— Esse projeto vem ao encontro dos interesses da Polícia Civil também, porque esse tipo de atendimento é muito necessário depois de momentos de catástrofe, de trabalhos intensos, que envolvem, inclusive, as vidas dos profissionais. Muitos policiais perderam também seus bens, suas casas e continuam trabalhando. Esse acolhimento é muito importante para vários dos nossos policiais — ressalta Sodré.