Brigada Militar e Polícia Civil foram as corporações com maior número de estruturas e veículos atingidos. Também foram afetados Corpo de Bombeiros, Instituto-Geral de Perícias (IGP) e a própria sede da Secretaria da Segurança Pública na zona norte de Porto Alegre
LETICIA MENDES GZH
Na Avenida Pernambuco, no bairro Navegantes, em Porto Alegre, a sede da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado precisou ser evacuada, em maio. A água barrenta tomou as ruas, passou pela escadaria, invadiu o térreo, e fez submergir a recepção. Ainda na Zona Norte, no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil, a inundação chegou a quase dois metros de altura. No Menino Deus, o histórico 1° Batalhão de Polícia Militar, da BM, também ficou tomado pelas águas.
O comando da segurança do Estado teve de ser transferido às pressas para a Academia da Polícia Militar, na Zona Leste, assim como o da BM. A Polícia Civil acomodou-se em parte na antiga sede da CEEE, no bairro Jardim Carvalho. Na semana passada, o prédio da SSP voltou a ser ocupado, ainda com as marcas da enchente, que destruiu parte das divisórias e arrancou as mobílias. O cenário representa somente parte dos danos causados na segurança pública do Estado. Ao menos 221 viaturas e 50 prédios foram danificados pelas inundações – a Polícia Civil não contabilizou até o momento o número de estruturas atingidas. Segundo a SSP, os valores dos danos ainda são compilados para serem contabilizados.
— Os danos causados pelas enchentes não comprometeram em nenhum momento o trabalho das nossas vinculadas. Pelo contrário, a Brigada Militar, a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros Militar e o IGP tiveram resultados até melhores que o período anterior aos eventos climáticos, com mais prisões, salvamentos e rapidez nas perícias — afirma o secretário da Segurança Pública do Estado, Sandro Caron.
Brigada Militar e a Polícia Civil foram as instituições com o maior número de viaturas e imóveis danificados. A BM, responsável pelo policiamento nas ruas, teve 98 veículos atingidos pela enchente. A maior parte das viaturas, segundo o Comando-Geral, estava em oficinas, aguardando consertos. A frota afetada representa cerca de 1% das viaturas usadas no policiamento ostensivo – nem todas atingidas eram usadas com essa função.
— À medida que as oficinas vão fazendo a revisão, e ajustando o que precisa, estão voltando a rodar. Independentemente disso, está sendo encaminhada a aquisição de novas viaturas. Muitas viaturas são via Programa de Incentivo (ao Aparelhamento) da Segurança Pública, além de investimentos da instituição ou de emendas parlamentares. Mas é importante frisar que não houve decréscimo no policiamento em razão disso. Não há prejuízo no policiamento ostensivo. Essas viaturas foram substituídas por outras, mais velhas, que rodavam. O efetivo continuou sendo lançado na rua — afirma o comandante-geral da BM, coronel Cláudio dos Santos Feoli.
A instituição teve ainda 33 quartéis inundados. Além do 1º BPM, estão entre os locais atingidos na Capital o 9º BPM, também no Menino Deus, e o Quartel do Comando-Geral da BM, na Rua dos Andradas, no Centro Histórico, onde a água chegou a 1m70cm. Os servidores já retornaram ao QG, mas o prédio ainda opera com gerador. As mobílias foram as mais atingidas no edifício histórico. Perto dali, o Centro Médico-Odontológico da BM, que atende policiais da Capital, Região Metropolitana e Vale do Sinos, foi inundado, e deixou 15 cadeiras de dentista submersas. O atendimento no local ainda está suspenso – os servidores são atendidos no hospital da BM.
O maior dano na avaliação da BM se dá no Comando do Vale do Taquari, em Lajeado, que alagou pela terceira vez. Neste caso, a decisão foi por não retornar ao prédio e partir para a locação de outro imóvel. Em Montenegro, no Vale do Caí, onde a Escola de Formação foi inundada, a opção é por manter no prédio de agora em diante somente cursos de especialização. A formação de novos soldados deve ser remanejada para uma escola de Porto Alegre, que teve a capacidade ampliada. No Interior, a BM ainda avalia possível mudança de algumas unidades que foram atingidas.
— Os quarteis, em sua maioria, já estão limpos e voltaram a abrigar os policiais. Aqueles que não faz sentido voltarem a ser utilizados optamos pela locação. É o caso do Comando Regional do Vale do Taquari. Já locamos um espaço que vai abrigar o comando. Outras avaliações ainda estão sendo feitas, mas a maioria está em condições de uso— avalia o comandante-geral da BM.
Outras instituições
A Polícia Civil foi a segunda instituição a ter mais veículos danificados. Foram 84 viaturas atingidas, dessas 40 tiveram perda total – 26 eram veículos discretos e as demais emblemadas. Os outros automóveis tiveram perda parcial. Em Sobradinho, no Vale do Rio Pardo, uma parede chegou a ser derrubada pela força da água, e arrastou três viaturas.
Segundo a Polícia Civil, os dados nos prédios ainda estão sendo contabilizados. No dia 23 de maio, o número de locais afetados era de 29, mas esse dado está sendo avaliado. No Vale do Taquari, todas as delegacias da central de polícia em Lajeado foram afetadas. Em Eldorado do Sul, a delegacia foi completamente tomada pelas águas.
— Ainda estamos avaliando, inclusive, a reconstrução dessas delegacias que foram destruídas ou não no mesmo local. O importante é frisar que em nenhum momento o trabalho parou, mesmo diante de toda dificuldade — afirma o subchefe da Polícia Civil, delegado Heraldo Guerreiro.
Um dos prédios atingidos é o do Deic, na Avenida das Indústrias, que precisou se transferir para a antiga sede da CEEE, no bairro Jardim Carvalho. O Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) também foi transferido para o mesmo local. A 3ª Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA) da Capital, na Zona Norte, precisou transferir o atendimento para o Palácio da Polícia. A 17ª Delegacia de Polícia também foi atingida, assim como a 3ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro Anchieta.
O Corpo de Bombeiros foi a terceira instituição em número de veículos e imóveis atingidos. A corporação teve, segundo a SSP, 26 viaturas danificadas, e 14 prédios com avarias. Já o Instituto-Geral de Perícias (IGP), além de 13 veículos atingidos, teve o Centro Regional de Excelência em Perícias Criminais da Região Sul (Ceprec), inaugurado há dois anos, danificado.
Servidores
Ao menos 800 policiais militares foram atingidos, sendo que desses 361 perderam todos os bens. O serviço de assistência social vem atendendo os servidores com cestas básicas, segundo a BM. Há uma campanha em andamento por meio da Fundação da BM para arrecadar valores. A doação pode ser feita por meio do pix administrativo@fundacaobm.org.br. Na Polícia Civil, o número de atingidos é de cerca de 250 policiais. Há iniciativas privadas, que vêm tentando auxiliar os servidores, com doações de mobiliários.
Os danos
Brigada Militar
- 98 viaturas
- 33 quartéis
Polícia Civil
- 84 viaturas
- Não informou prédios
Bombeiros
- 26 viaturas
- 14 prédios
IGP
- 13 viaturas
- 1 prédio
SSP
- 2 prédios com avarias, ambos na Pernambuco
Fonte: SSP-RS