Principal facção do país é a ficha um entre as suspeitas de organizar o roubo milionário no aeroporto caxiense, que teve uso de arma de atirador de elite e resultou em duas mortes
HUMBERTO TREZZI GZH
É do Piauí o bandido morto em troca de tiros com a Brigada Militar durante o sangrento assalto cometido ao anoitecer de quarta-feira (19) no aeroporto Hugo Cantergiani, de Caxias do Sul. O que ele fazia tão longe da sua terra natal é um dos indícios de que a quadrilha que executou o roubo milionário tem abrangência nacional. As primeiras informações são de que o homem morto é suspeito de participação em outros ataques a carros-fortes país afora. Além dele, morreu o segundo sargento Fabiano Oliveira, da BM, que tentava fazer frente aos quadrilheiros.
Até por essa circunstância e pelo método empregado — quase uma dezena de criminosos armados como uma tropa de infantaria, disfarçados como policiais federais e dispostos em formação militar —, a convicção das autoridades de segurança pública é de que o assalto foi encomendado pela maior facção criminosa do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC), que nasceu nos anos 1990 nos presídios paulistas e hoje é quase um cartel internacional, com tentáculos em quase todo o território brasileiro. Inclusive na serra gaúcha.
São vários os indícios. O primeiro é que o voo carregado com dinheiro de um banco privado veio de Curitiba para o aeroporto caxiense e os bandidos sabiam. Isso pressupõe colaboração de criminosos caxienses no ataque, para planejar rotas de fuga. A presença do assaltante do Piauí, que teria passagens por São Paulo, indica uma articulação nacional, como costumam ser os megaassaltos a carros-fortes que volta e meia ocorrem. Nos últimos anos, quadrilhas fizeram roubos desse tipo, usando uniformes policiais, no interior de São Paulo, de Santa Catarina, de Tocantins e do Mato Grosso, para ficar em alguns exemplos.
Algumas das características que indicam similaridade com esses crimes:
- Grande número de bandidos, todos adestrados no uso de armas de guerra;
- Armamento de grosso calibre. No caso de Caxias, pelo menos uma das armas seria um fuzil Barrett M82 calibre .50, que usa munição antimaterial (projetada não só para neutralizar humanos, mas também construções, veículos leves, carros de combate e até aeronaves). É usado por snipers ucranianos, na guerra da Ucrânia;
- Presença de forasteiros. Além do piauiense, são procurados criminosos que tenham trajetória nacional, até porque alguém sabia em detalhes o voo e os horários do transporte de valores vindos de outro Estado.
Em 2001, o PCC tentou assaltar um avião pagador no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Estava tudo armado, mas horas antes de executar o roubo, os ladrões foram surpreendidos pela Polícia Federal (PF) dentro de uma residência alugada próxima à pista de pouso, justamente para facilitar a fuga. Estavam abrigados ali nordestinos e paulistas, com colaboração de gaúchos. Todos com forte armamento, fuzis russos e norte-americanos, além de explosivos.
Esse antecedente pode indicar nova tentativa do PCC (também chamado Partido do Crime) de interceptar dinheiro trazido via aérea. No caso de Caxias, foram bem-sucedidos: roubaram uma quantia estimada em milhões (o total não foi revelado). Parte das cédulas foi recuperada porque o bandido morto pela BM foi abandonado pelos companheiros, com os malotes que carregava dentro de uma caminhonete furada a bala. Os policiais mantêm o cerco para tentar capturar os quadrilheiros e apreender os valores roubados.
A BM e a Polícia Civil colaboram nas buscas, mas a investigação ficará com a PF, porque o roubo teve articulação interestadual.