
Marco Antônio Moura dos Santos[1]
Tendo em vista a contextualização apresentada no primeiro episódio, desta temporada atual, não finita e muito menos produzida por plataformas de streaming, precisamos dar sequência e analisar as relações geopolíticas envolvendo o Brasil, o BRICS, os Estados Unidos da América.
Devido a questionável e a atitude incerta da atual administração em relação à economia e às relações internacionais, revelada naturalmente em seu alinhamento e comportamento ideológico, demonstra a falta de visão política estratégica neste momento de tensão internacional.
É evidente que a narrativa governamental culpando “a família Bolsonaro” pelos problemas locais, da economia brasileira, do comércio bilateral com os Estados Unidos e do comércio multilateral no cenário internacional, é um discurso desgastado, incoerente e frágil, que só demonstra a ineficiência política do governo.
Ao considerar a causa da “crise com os Estados Unidos da América” como “atos e influência da família Bolsonaro”, o governo está minimizando a política externa brasileira, a capacidade econômica do empreendedor brasileiro, a capacidade da diplomacia nacional, desrespeitando a própria história e imagem da “Escola de Rio Branco”[2]; está demostrando ser um governo fraco em relação a “mera participação da família Bolsonaro”. Isto sem falar que estão sendo desconsideradas as causas, motivos reais e efeitos de medidas políticas e econômicas de outros países e mercados.
Mas a realidade mostra que é o governo brasileiro e não outras forças e atores que deve carregar o ônus pelo fracasso da gestão política interna e, agora, externa. A política externa nacional, de forma sem precedentes, vem sendo marcada por posicionamentos diplomáticos controversos que conduzem e mudaram o interesse do país na agenda internacional.
A política é de “equilíbrio[3]” entre as posições tradicionais de “não-alinhamento” do Brasil e uma postura de engajamento forte em relação a alguns interesses ideológicos e geopolíticos de difícil compreensão sob o ponto de vista da democracia e direitos humanos[4].
O Brasil tem que ponderar com idealismo e pragmatismo em seus ideais, sem perder de vista interesses como uma potência global e um Estado financeiramente capaz. Mas as consequências das decisões de política externa do Governo Federal tomadas hoje, certamente terão um impacto na posição do Brasil na ordem mundial nas próximas décadas.
No tocante a situação da crise atual com o Governo Americano, verifica-se que se as tarifas impostas forem implementadas efetivamente, irão gerar enormes perdas para a indústria brasileira, notadamente para as áreas mais industrializadas do país (em especial o sudeste) e em setores como na siderurgia, metalurgia (alumínio), indústria de transformação, construção civil e logística portuária. Mas novas consequências serão rapidamente sentidas em outras regiões e em outros setores[5], como o agronegócio ou para a indústria de aviação (EMBRAER)[6] Ou melhor, já estão sendo presentes.
Além de todas as dificuldades no alinhamento internacional, o uso do bloco (mesmo na ausência de uma posição institucional deste), sugere de forma imediata um esforço do Governo Brasileiro para “utilizar essas questões”, como uma distração de questões nacionais urgentes e não resolvidas, que estão sendo ignoradas, pelo Congresso Nacional, pelo Supremo Tribunal Federal e pela mídia tradicional brasileira. Verificamos que há um uso marcadamente eleitoreiro e populista de problemas políticos extremamente graves e conduzidos de forma leviana, conforme discursos e manifestações do Governo proferidos em vários momentos, nos últimos dias[7].
Esta crise que se apresenta agora é uma ponta de um ICEBERG, e deve ser prioridade. Vamos seguir acompanhando e analisando, em um novo capítulo, nesses episódios de idas e vindas, acertos e erros, ações e omissões, decisões e impactos da política interna e externa brasileira, frente aos seus parceiros comerciais e políticos, assim como as implicações para o MERCOSUL, aos interesses do Governo, do Estado, da Nação e de outros interesses não expostos de forma transparente, clara e objetiva, mas que irão trazer consequências irreversíveis para todo povo brasileiro.
[1] CORONEL QOEM Res Brigada Militar/RS e Especialista INTEGRAÇÃO E MERCOSUL/UFRGS
[2] O Instituto Rio Branco (IRBr) é a escola de diplomacia do Brasil, responsável pela formação e aperfeiçoamento dos diplomatas brasileiros. Ele foi criado em homenagem ao Barão do Rio Branco, figura histórica da diplomacia brasileira, e é reconhecido internacionalmente como uma das melhores academias diplomáticas.
[3] Ostensiva política de neutralidade tradicional e a não intervenção nos assuntos internos de outros países –
[4]A guerra Rússia-Ucrânia, a guerra Israel-Hamas, agressões entre Irã-Israel, crises na e com a Venezuela, Nicarágua, Argentina, o programa nuclear iraniano, a extradição da ex-primeira dama do Peru (condenada a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro em um caso relacionado à prática de caixa 2 envolvendo a empreiteira Odebrecht). Por fim, agora a “disputa comercial com os Estados Unidos”.
[5]Mesmo não sendo objeto direto das tarifas, irá apresentar diversos efeitos colaterais em sua operação e competitividade, especialmente pela dependência de insumos industriais e logística metalmecânica. Haverá aumento de custos produtivos, na fabricação de máquinas agrícolas, silos, armazéns, tratores e pivôs de irrigação que depende fortemente de aço e alumínio; a infraestrutura rural e pecuária será impactada nos custos dos sistemas de confinamento de gado, granjas avícolas, currais metálicos, tanques e bebedouros industriais, reduzindo o lucro na pecuária intensiva e leiteira; teremos elevação de custos na logística e transporte de grãos, em vista dos custos do transporte rodoviário, ferroviário e contêineres metálicos e com isso encarecimento dos preços de commodities, dificultando a competitividade logística do setor agrícola; e por fim os riscos geopolíticos e comerciais que irão levar a retaliações indiretas ao agro, especialmente nas exportações de soja, carne bovina e milho, altamente dependentes do mercado norte-americano.
[6] https://mercadonews.com.br/2025/07/10/embraer-avalia-impactos-da-possibilidade-de-aumento-de-tarifa-pelos-eua/
[7] https://www.youtube.com/watch?v=dUlU_rbFOkw