Era para ser uma ocorrência de rotina no dia 12 de março de 2017, quando a guarnição composta pelo soldado Timóteo Jeremias Cappa Bravo e pelo soldado Eduardo Garcia da Silva foi despachada pela Sala de Operações da Brigada Militar de Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre, para intervir realizando patrulhamento no bairro Vila da Paz, onde havia denúncias de toque de recolher imposto por criminosos ligados a uma facção criminosa.



Tratava-se de ordens da facção “Os Bala na Cara”, que, entre suas determinações, proibia a entrada da polícia na localidade.
Durante o patrulhamento, a guarnição dos soldados Bravo e Eduardo, do 26º BPM, foi recebida a tiros por integrantes da facção, sendo obrigada a revidar. Na troca de tiros, um dos indivíduos foi morto e outro ficou ferido — este último já possuía condenações por tráfico e roubo, totalizando mais de 38 anos de pena.
A partir da ocorrência, os dois militares passaram a ser indiciados e a responder a ação penal, sendo um acusado de homicídio qualificado e o outro de homicídio simples.
O período entre a ocorrência e o julgamento ultrapassou nove anos. Segundo os militares, foi um tempo de muitas incertezas, inseguranças e perdas. Ambos constituíram advogados na tentativa de comprovar o exercício regular das funções e reverter a grave acusação que recaía sobre os agentes de segurança.
Absolvição pelo Tribunal do Júri


No dia 16 de julho de 2025, sob a presidência do juiz de Direito Dr. Marco Luciano Wachter, tendo como promotor o Dr. Caio Isola Aro e atuando nas defesas os advogados Dr. Márcio de Matos Barcelos, Dr. Nei Juarez Afonso Colombo, Dr. Giliar Hermann Pires e Dra. Ana Carolina Filippon Stein, ocorreu a sessão do Tribunal do Júri da Comarca de Cachoeirinha, sendo proclamada a absolvição dos soldados Timóteo Cappa Bravo e Eduardo Garcia da Silva, com o reconhecimento da legítima defesa — pedido também feito pelo Ministério Público.
Atualmente residindo em Alegrete, pai de dois filhos e atuando na 3ª Cia do 1º Batalhão de Policiamento de Área de Fronteira (1º BPAF), o soldado Cappa Bravo relatou os momentos difíceis vividos até a absolvição, mesmo tendo a certeza de que agiram em defesa da sociedade:
— A todo instante presenciamos ocorrências semelhantes a essa, em que muitos colegas são condenados, perdem a função pública e, mesmo sem antecedentes, acabam presos, deixando esposa e filhos desamparados.
— Na época, fomos “massacrados” pela opinião pública, com muitas publicações que não refletiam a verdade. É muito complicada nossa função — relatou Bravo.
— Felizmente, no nosso caso, a justiça foi feita.
O soldado Cappa Bravo concluiu o Curso Técnico em Segurança Pública (CTSP) entre 16/12/2024 e 04/07/2025, e aguarda os atos de promoção para iniciar uma nova fase em sua carreira na Brigada Militar.
O soldado Eduardo, pai de um filho, reside em Cachoeirinha e conta com 20 anos de serviço prestado à Brigada Militar.
Ambos passaram metade da carreira aguardando o julgamento de um crime que se comprovou não terem cometido.


A incerteza quanto ao desfecho de uma ocorrência traz enorme tensão aos agentes da segurança pública, pois, além das decisões que precisam ser tomadas em frações de segundo, muitas vezes enfrentam o sensacionalismo de setores da imprensa, da classe política e da própria opinião pública.
Mesmo com a absolvição, em muitos casos as perdas são irreparáveis — e se estendem para além da vida do policial, atingindo diretamente suas famílias. Em alguns processos, os policiais ficam impedidos de progredir na carreira durante o período, sendo vetados em seleções internas ou concursos.
Ao final, resta apenas comemorar: a liberdade.