Índice de 12,49% parcelado em três vezes, proposto pelo governo estadual, é considerado pelos policiais inaceitável para uma categoria que acumula 64% de defasagem salarial em 10 anos
HUMBERTO TREZZI GZH
Os policiais civis encabeçam uma fila de descontentes com os reajustes salariais propostos pelo governo Eduardo Leite. Alguns estão até indignados. Tanto que, em assembleia-geral, a Associação dos Delegados de Polícia (Asdep) decidiu adotar uma série de medidas que caracterizam uma espécie de operação-padrão: só farão o que é necessário e previsto em regras, nenhum esforço a mais.
Entre as decisões está a de suspender entrevistas sobre operações contra o crime e aulas na Academia de Polícia. E podem vir mais ações concretas para manifestar o repúdio, já que nesta segunda-feira (22) os delegados se reúnem novamente. Eles têm apoio de escrivães e inspetores.
Veja algumas das medidas decididas até o momento pelos delegados:
Diárias antecipadas
Nenhum policial civil deverá deslocar-se sem o pagamento antecipado de diárias, quando cabível conforme art. 97 da Lei 10.098 de 1994.
Rigor nas horas-extras
Policial civil não deverá realizar atividades sem a respectiva compensação. Deverá ser observado o sistema de pagamento de horas-extras realmente trabalhadas, sem a possibilidade da divisão de horas-extras que representem o pagamento a menor do que efetivamente foi trabalhado, salvo compensação em folgas;
Compensação de folgas
Em caso de insuficiência no pagamento de horas-extras, a hora extraordinária não paga será compensada com folga, mediante requerimento, cujo modelo será encaminhado pela Asdep.
Silêncio sobre operações policiais
Delegadas e delegados de Polícia não concederão entrevistas e ficarão suspensas as postagens em redes sociais sobre o trabalho policial em geral, especialmente sobre investigações, operações e quaisquer cumprimentos de mandados ou dados estatísticos.
Suspensão de aulas na Academia
Nenhum delegado ministrará aulas na Academia de Polícia (Acadepol), nos cursos de formação e aperfeiçoamento. Nos cursos que estiverem em andamento, os delegados deverão suspender imediatamente a prática da docência.
Defasagem histórica
O presidente da Asdep, Guilherme Wondracek, diz que a categoria acumula 64% de defasagem salarial desde 2014 e deveria ser equiparada a outras carreiras, como a de procurador do Estado.
— Os indicadores da segurança pública do RS nunca foram tão bons. Os números demonstram que mês a mês houve redução no roubo de veículos, latrocínios e homicídios, além de combate a facções e apreensões recordes de drogas. Pergunto: essa é a valorização que o governo entende que nos cabe? — critica.
O governo promete diálogo em relação aos índices, ressaltou na semana passada a secretária de Planejamento, Danielle Calazans.
— Os servidores querem mais, legitimamente, mas a reestruturação é o que mais se impõe neste momento. Eles têm receio de que não haja novas rodadas de negociação, mas estão enganados. Se eu limpo a principal pauta, lógico que teremos condições de permanecer com o diálogo — concluiu ela.