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Integração de dados e uso de tecnologia permitem avanços na segurança pública do RS

Câmeras corporais, centros integrados, análise de dados e inteligência artificial passaram a fazer parte da rotina de policiais militares em Porto Alegre

Por Rodrigo Thiel Correio do Povo

Uso de imagens de câmeras em tempo real, análise preditiva com dados atualizados, centralização da demanda. Ao ver policiais militares fazendo ronda nas ruas de Porto Alegre, muitas vezes as pessoas não conseguem identificar as camadas de tecnologia no dia a dia da segurança pública. Desde zerar a fila de espera em chamados de urgência até maior agilidade no tempo de atendimento de ocorrências, passando pela tomada de decisões estratégicas, integração de dados e uso de ferramentas inovadoras contribuíram para a ampliação da capacidade operacional da Brigada Militar (BM) e a redução de índices de criminalidade.

Segundo a BM, o uso da integração e da tecnologia permitiu a redução do tempo de resposta em 70% no Comando de Policiamento da Capital (CPC), onde as ferramentas foram inicialmente implementadas. Em vários momentos, a fila de espera de um chamado via telefone 190 é zero. O primeiro dia de emprego de parte das tecnologias, como as câmeras corporais, foi em 30 de setembro de 2024, inicialmente pelo 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM).

Pouco depois, os demais batalhões da Capital também passaram a utilizar o Centro de Operações da Polícia Militar (Copom). É nesta estrutura física que chegam as ligações via 190 e que, logo em seguida, são encaminhadas para ilhas responsáveis por cada um dos batalhões de polícia, que despacham as guarnições para as ocorrências. Além disso, no Copom, é possível monitorar e acessar com detalhes as imagens das cerca de 2,7 mil câmeras da Prefeitura de Porto Alegre e das 900 corporais utilizadas em patrulhamento.

Resultados já são registrados

A integração destas tecnologias, aliadas a outras ferramentas de gestão, refletiu em números. Um levantamento dos órgãos de segurança aponta que, em abril de 2025, o número de veículos roubados na Capital caiu para 1,8 por dia. Em 2016, o índice para este tipo de crime chegou a 40 registros diários. Além disso, o cercamento eletrônico através das câmeras e a maior praticidade no recebimento e despacho de ocorrências faz com que a recuperação de veículos roubados chegue a cerca de 60%, com um número expressivo de prisões relacionadas ao crime.

“Uma série de transformações foram promovidas. Até alguns anos, o registro da ocorrência era no papel. Hoje, o policial militar faz desde o registro até a consulta de placas e situação das pessoas no próprio celular, através de um aplicativo que a BM criou”, afirmou o comandante-geral da Brigada Militar, o coronel Cláudio dos Santos Feoli.

Feoli destaca ainda que novos avanços estão perto de ocorrer, como a possibilidade de conectar as imagens das câmeras corporais a bancos de foragidos. Atualmente, as imagens geradas são capazes de identificar apenas pessoas com registro de desaparecimento. Ele também prevê a expansão gradual, do Copom para outras cidades do RS, iniciando pelas regiões com maior população. Além de Porto Alegre, Caxias do Sul e Lajeado também possuem estruturas de centro de operações.

Integração de dados e tecnologia permitem avanços na capacidade operacional da BM
Central 190

Integração de dados e tecnologia permitem avanços na capacidade operacional da BM Central 190 | Foto: Ricardo Giusti

“Após essa experiência na Capital, pretendemos replicar o Copom em 21 comandos regionais, trazendo as demais forças de segurança e seus entes parceiros para dentro desse hub de solução de problemas do cidadão. É aquilo que ele se propõe, ser um centro integrado para que nós consigamos com rapidez atender uma ocorrência. A nossa ideia é que a chamada vá para um comando regional, que despacha uma viatura para aquele município próximo”, completou.

Outra ferramenta destacada pelo comandante-geral da BM é o sistema GESeg, que acompanha os dados em tempo real do combate à criminalidade e realiza análise com cenários para próximos dias e meses, auxiliando na tomada de decisões. A ferramenta ainda não utiliza inteligência artificial, mas um mecanismo de análise da série histórica e que realiza a interpretação destes dados.

“São dados científicos que ajudam na tomada de decisões e que têm nos ajudado muito. Eles indicam horários e locais de maior incidência. É uma gestão por resultado que nos leva a fazer reforços no policiamento e traçar estratégias. Por isso, a importância do registro da ocorrência”, ressaltou o coronel Feoli.

Este tipo de análise e interpretação ajudou a BM no aumento de 166% na apreensão de drogas até o final de junho de 2025 no RS, se comparado com o mesmo período em 2024. Até o momento, foram 18,5 toneladas apreendidas, volume que é 2,6 vezes maior do que toda a apreensão no ano anterior. “A melhor forma de sermos mais efetivos no atendimento da população e enfrentamento da criminalidade é agregando tecnologia”, concluiu o comandante-geral.

Policiais destacam uma maior praticidade

Atual comandante do CPC, o coronel Fábio da Silva Schmitt foi também o comandante do 9º BPM durante a implantação do uso de câmeras corporais nos policiais militares de Porto Alegre. Ele avalia como positiva a utilização da ferramenta e cita que os equipamentos já se tornaram um instrumento de serviço essencial para o policial, assim como o armamento. Além delas, ele destaca o uso de drones em patrulhamento em batalhões da Capital, cujas imagens já serviram como provas em processos judiciais.

“O uso das câmeras dá maior respaldo para o profissional, garante a integridade física e moral do policial e os direitos individuais dos cidadãos, em especial pelo efeito apaziguador que tem. A câmera reforça a transparência e legitimidade das ações policiais, otimizando a percepção de segurança da população, e consolida uma cultura legalista nas intervenções feitas pela BM. Ela é importante também por fomentar processos de inovação e modernização da instituição”, avalia.

Além das câmeras corporais e drones, o tenente-coronel Cristiano Moraes, comandante do Copom de Porto Alegre, aponta que a BM está desenvolvendo uma ferramenta com uso de inteligência artificial para identificar padrões comportamentais anômalos a partir do acompanhamento das imagens das câmeras de monitoramento, alertando para possíveis ocorrências. “O que conseguimos hoje não seria possível sem a tecnologia. Claro, temos o empenho das equipes nas ruas, mas precisamos de mais tecnologia. É isso que tem nos permitido reduzir crimes violentos, roubos a pedestres, veículos e estabelecimentos comerciais. Mas isso tudo sem o policial na rua não funciona”, aponta Moraes.

Integração de dados e tecnologia permitem avanços na capacidade operacional da BM
Copom

Integração de dados e tecnologia permitem avanços na capacidade operacional da BM Copom | Foto: Ricardo Giusti

Mais agilidade

Na ponta da segurança pública, o incremento feito com o uso da tecnologia é visto com bons olhos, principalmente por agilizar e dar mais praticidade para o atendimento da ocorrência. Policiais do 9º BPM, os soldados Douglas Madruga e Layon Sudati já consideram as ferramentas como parte da rotina. “A câmera corporal trouxe uma segurança a mais tanto para o policial como para a pessoa que está sendo atendida na ocorrência, por conta da gravação das imagens servir como prova. Além disso, caso precise, o pessoal aqui no Copom tem acesso ao vivo. Além da câmera, também utilizamos os aplicativos no celular, que nos ajudam a gerenciar a ocorrência de forma mais rápida. É notável que, depois da aplicação destas melhorias, o tempo desde a chegada da ocorrência até o despacho e o atendimento dela caiu muito. Isso ajudou bastante”, explica Madruga.

Uma das ferramentas que eles destacam como facilitadoras para o trabalho policial é um aplicativo desenvolvido que auxilia no despacho para a ocorrência. O sistema emite um alerta sonoro quando chega uma demanda. “Às vezes, o próprio rádio comunicador demora, enquanto no celular está ali, de forma mais rápida. Com isso, ligamos a câmera e vamos para a ocorrência. Ele também apresenta um mapa, que ajuda muito indicando tempo e a rota mais rápida para deslocar. Agora está tudo muito mais ágil”, conclui Sudati.

Recursos já empregados no Estado

  • Análise preditiva: através de um sistema interno na segurança pública, é feita uma análise baseada em dados que estimam cenários relacionados à criminalidade. Isso auxilia os gestores na tomada de decisões sobre contingente e táticas de policiamento.
  • Copom: o Centro Integrado agiliza o atendimento de ocorrências e realiza monitoramento de imagens em tempo real, tornando mais eficiente o combate à criminalidade nas cidades onde tem estrutura, como Porto Alegre, Caxias do Sul e Lajeado.
  • Câmeras corporais: atualmente, são 900 câmeras à disposição do efetivo da Capital. Esses equipamentos são de uso diário de policiais militares em Porto Alegre. Contam com dois modos de operação, sendo o principal o modo de transmissão de imagem e áudio em tempo real durante o atendimento de uma ocorrência.
  • Cercamento eletrônico: as câmeras de monitoramento são espalhadas pela cidade para registrar entrada e saída de veículos, auxiliando no atendimento e acompanhamento de ocorrências, como crimes de roubo de veículos.
  • Drones: os equipamentos são utilizados em grandes eventos, operações táticas e situações de risco, com transmissão ao vivo das imagens para o Copom. Isso auxilia a na tomada de decisão de maneira mais rápida e eficiente.
  • Vídeo em nuvem: a utilização de imagens geradas por câmeras integradas ao sistema do Copom geraram a captação de 986 mil vídeos armazenados em nuvem nos primeiros oito meses de aplicação da tecnologia, com uma média de 4 mil gravações por dia, que poderão ser utilizados como prova.
  • Aplicativos: a BM também tem investido no desenvolvimento de aplicativos para uso diário dos policiais militares, que auxiliam na elaboração do boletim de ocorrência, emitem avisos sonoros para despacho de guarnições e apresentam rotas para deslocamento no trânsito, entre outras funcionalidades.

Previsão de novidades

  • Inteligência artificial na análise de imagens permitirá o monitoramento contínuo para identificar padrões comportamentais, alertando para aqueles que podem se configurar como uma ocorrência policial. Atualmente, a IA é utilizada na identificação de pessoas em situação de desaparecimento.
  • Aplicativo para a população deve permitir o acionamento de atendimento policial, servindo como um braço operacional do telefone 190, além de outras funcionalidades.
  • A expectativa da BM é expandir a estrutura do Copom para 21 comandos regionais no Estado, iniciando pelas cidades e regiões com maior população no RS.
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