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MPRS destaca o papel da Brigada Militar, por meio do Proerd, na prevenção de crimes de violência extrema

Proerd expande a abordagem sobre os riscos da hiperexposição de crianças e adolescentes em plataformas e redes sociais

O Projeto Sinais do Núcleo de Prevenção à Violência Extrema (Nupve) do Ministério Público do Rio Grande do Sul, foi o tema de uma das palestras realizadas durante a 11ª edição do Seminário Estadual do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) da Brigada Militar. O evento realizou-se na terça-feira (02/09) dessa semana visando capacitar os policiais militares para enfrentar o aumento de ações danosas ocorridas nas escolas. Neste sentido, o diretor do Departamento de Ensino da Brigada Militar, coronel PM Jorge Dirceu Abreu Silva Filho, destacou a efetividade do Proerd, também diante dessas ações, por meio de uma intervenção rápida e precisa ao evitar desfechos trágicos. “Ao completar 27 anos em 2025, o Proerd formou mais de 1,6 milhões de estudantes gaúchos, o que representa milhares de vidas marcadas, de famílias informadas e de comunidades cada vez mais conscientes sobre riscos em torno,” asseverou, sobre a prática preventiva do Programa, que é compartilhada entre polícia, escola e comunidade.

É neste contexto de uma prática preventiva compartilhada, que os integrantes do Ministério Público apresentaram informações do Guia de Prevenção à Radicalização e Mobilização à Violência a serem amplamente distribuídas na sociedade. Em especial, à comunidade escolar, às famílias, à rede de proteção, mas também à imprensa, entre outros setores, para o desenvolvimento de estratégias para prevenir atos violentos envolvendo crianças e adolescentes. O promotor de Justiça Márcio Abreu Ferreira da Cunha enfatizou a necessidade da criação de uma consciência capaz de perceber os sinais externalizados pelos estudantes. “Não é da noite para o dia que decidem concretizar os crimes; é um processo lento e doloroso. É nesta fase da vida, quando mais buscamos pertencer a um grupo, que os adolescentes acabam encontrando o reconhecimento no mundo digital, no qual mergulham, sendo a violência a forma de expressão adotada no mundo real,” explicou o promotor, acrescentando que, em todos os casos analisados pelo Nupve, um dos sinais preponderantes é o isolamento social, escolar e familiar.

Telas e cooptação

Em acordo com apontamentos de outro palestrante, o Prof. Eduardo Castro, sobre os riscos inerentes ao uso excessivo e não produtivo de telas, que publicamos ontem (leia aqui), os membros do Nupve revelaram a circulação explícita de conteúdos de violência extrema nas plataformas e nas redes sociais que conhecemos. Portanto, não circulam apenas na internet profunda. “Estudantes são cooptados nas redes que nós mesmos utilizamos, através de uma linguagem que a partir de agora podemos começar a dominar, seja através de cifras, de códigos, de números, de emojis, de desenhos, de músicas, etc. e que estão no Guia Sin@!s. Nós, adultos, podemos não entender ainda. Mas, as gerações de nativos digitais entendem e são cooptados,” afirmou. Como exemplo, Cunha citou as plataformas de jogos que, apesar da indicação etária 18+, são livremente acessados por usuários de qualquer idade. Ele explicou que, o acesso aos conteúdos extremamente violentos, tira a sensibilidade e doutrina as crianças e adolescentes.

Além da alfabetização midiática ainda em andamento das gerações de adultos, outro obstáculo é a dificuldade de identificação dos usuários, que é imposta por diversas plataformas ao permitirem a anonimidade total dos dados de cadastro, mas não só. Neste cenário, o procurador de Justiça, Fábio Costa Pereira, elevou o papel dos policiais militares por meio do Proerd, na prevenção de crimes do mundo digital para o mundo real. Segundo ele “para um combate efetivo, apostamos naquilo que o ser humano sempre fez de melhor, que é cuidar de outros humanos. Dessa maneira, buscamos identificar rapidamente os sinais que são preditores de violência extrema, da qual os ataques a escolas representam uma parte”.

Preditores

Os preditores, referidos acima pelo procurador do Ministério Público, dividem-se em algumas categorias, como objetivos, subjetivos, estéticos, são analisados conjuntamente e dentro de contextos. Há um formulário disponível para as escolas preencherem, mas a avaliação multidisciplinar é feita pelo Nupve.

A orientação é para que todos que trabalham com estudantes prestem atenção no que escrevem em qualquer meio e lugar, e também o que falam porque, geralmente, as intenções são expressadas. É fundamental conhecer os interesses e observar quando for por crimes reais, biografias de psicopatas, desenhos violentos, que servem como fontes de inspiração. “Eles pesquisam muito, encontram vídeos explicativos, utilizam armas dos pais. É preciso controlar o que consomem, porque conseguem mostrar somente o que querem que os pais ou responsáveis saibam. O controle tem que ser direto, crianças e adolescentes não podem ter direito à privacidade quando estiverem diante das telas,” alertou.

Perfil

Em cerca de um ano e meio de atuação do Projeto Sinais no Rio Grande do Sul, 500 eventuais casos foram notificados e, em 19% deles, a intervenção foi necessária, por meio da execução de mandados de busca e apreensão de materiais nas residências e do encaminhamento dos potenciais agressores.

O perfil de estudantes nesse universo de casos de agressores extremos no estado, apresenta uma faixa etária entre 10 e 25 anos, na qual predomina a faixa de 12 a 16 anos. A maior parte desses casos concentra-se no ensino fundamental, sendo 80% brancos e 20% negros ou pardos. Em relação a origem, 37% dos casos foram constatados em municípios com menos de 13 mil habitantes. “Nenhum caso teve ligação com drogas como maconha, cocaína ou bebida alcoólica; a droga é a dopamina gerada pela oferta de conteúdos violentos na internet. A partir de 2024, surgem casos de meninas e de mulheres jovens,” salientou o procurador Pereira.

O Projeto do MP também identificou os três pilares presentes nos casos analisados. O primeiro, é o das famílias disfuncionais, que não exercem as funções instituídas de proteger, criar, educar e impor limites. O segundo pilar, é sofrer ou praticar bullying ou cyberbullying, que representa em um catalisador do ódio interno dos estudantes. O terceiro é o excesso de telas, o pilar que sustenta a dissociação da realidade. Pereira explica: “Chegam ao ponto de não saberem mais separar o que é real do que é virtual. São cada vez mais frequentes os relatos de que substituíram o mundo real pelo virtual, considerando como os únicos e verdadeiros os amigos, aqueles contatos virtuais”.

Rede de proteção

Toda a sociedade deve engajar na prevenção à violência extrema. Entretanto, o papel da comunicação social, ao lado da escola, da segurança pública e da comunidade, foi destacado. Os representantes do Ministério Público explicaram, com ênfase, as razões pelas quais a comunicação social não deve divulgar as informações a respeito dos casos evitados ou concretizados de violência extrema praticados por crianças e adolescentes. Uma das razões, são as chamadas trends, que em português significam tendências. “Em 2025 teve algumas no Brasil, mas não só no país. De um estado para o outro, e de um país a outro, transmitindo ao vivo ou não, estudantes acessam e podem vir a reproduzir esses atos. Trata-se de uma rede global, onde nós, adultos, vivemos no mundo real e, eles, no virtual, não tem fronteiras físicas nem linguísticas, já que estão utilizando os tradutores online,” asseverou o procurador Pereira.

O trabalho do Nupve, núcleo criado para identificar e monitorar adolescentes em situações de risco que possam evoluir para atos de violência extrema, tem constatado a semelhança entre os casos e identificado as ligações. Por isso, entende que toda a publicização a respeito, favorece os agressores que recebem o que mais procuram, que é o reconhecimento, e especificamente, a notoriedade pelos crimes cometidos e a inspiração para outros agirem. Esta consequência da divulgação pública é chamada de efeito copycat, referida pela literatura criminológica, quando se constata uma onda de ocorrências iguais ou similares a partir da divulgação de um determinado incidente.
Leia e baixe gratuitamente o Guia Sin@!s, de Prevenção à Radicalização e Mobilização à Violência, disponível no site do Ministério Público gaúcho: https://www.mprs.mp.br/media/areas/imprensa/arquivos/guiasinais.pdf


Texto: Eliege Fante – jornalista/servidora civil – PM5 BM
Fotos: sd PM Brenda – PM5 e Proerd

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