Marco Antônio Moura dos Santos[1]
Em uma conversa recente, minha esposa e um dos meus filhos sugeriram que eu poderia tentar ser mais direto em algumas análises, especialmente em um momento de incerteza e complexidade generalizadas. Mas como resumir uma situação tão etérea em poucas palavras?
Estamos vivenciando e inseridos em uma crise que muitos preferem ignorar, outros tentam encobrir, e muitos ainda buscam distorcer, minimizando sua gravidade e transformando-a em mera plataforma política; mas cujos sintomas desenfreados não podem mais ser ignorados.
O oceano está agitado, com ondas gigantes, do tipo que você só vê na Praia do Norte em Nazaré, Portugal; o barco está à deriva? Seguro? A tripulação pronta e os ocupantes preservados? O comandante tomando decisões? Decisões acertadas?
Para muitos, as respostas seriam: estamos à deriva, inseguros, tripulação sem rumo e tripulantes em risco grave. Sem decisões ou elas são equivocadas e ineficientes. As decisões que tomadas parecem imprudentes e inadequadas, incapazes de guiar o navio até um porto seguro ou para águas mais tranquilas. Para outros, não há líder, quem está no timão não possui todas as informações e não demonstra ser capaz de resolver a situação. Colocar confiança na tripulação é bastante tênue à luz do cenário atual.
A tripulação está confusa, perplexa, demonstrando não saber o que deveriam fazer, o que deveria ter sido pensado, estudado, mesmo antes de zarpar. Eles deveriam ter avaliado as condições que enfrentariam, as possíveis soluções e seus próprios limites, e, com certeza, que o caminho era perigoso e ameaçador.
A estrutura do navio, embora considerada robusta, apresenta falhas. Problemas antigos, com reparos inadequados, começam a se manifestar como fragilidades, agravando as vulnerabilidades que todos enfrentam e colocando-os em mais risco,. tornando-os mais sensíveis e ampliando a insegurança dos ocupantes até chegarem a um ponto mais seguro, se for possível nas condições atuais.
Em tempos de apreensão, buscamos equipamentos e dispositivos de proteção, mas a realidade é que esses itens são escassos, danificados e mal operados pela tripulação e pelos ocupantes. Não houve planejamento adequado para trazer a bordo os recursos necessários, nem a devida capacitação e treinamento para o enfrentamento da crise.
E, nesse caso, quando nada está de acordo, o comandante “culpa a todos” ou a “alguém em especial”, procurando retirar a sua responsabilidade por toda a navegação, pelos erros, pelos problemas e situações não avaliadas, pela tripulação nem sempre a mais preparada para enfrentar chuvas e trovoadas; que não revisou, e ou fez, a devida manutenção do navio; nos restando um quadro em que pessoas foram colocadas em perigo sem as proteções adequadas em tempo de alta instabilidade.
Portanto o que podemos ainda encontrar de positivo em situações tão adversas? É importante manter a fé de que posteriormente a “tempestade sempre virá a bonança”, assim como sabemos que há pessoas preocupadas em nos ajudar a sair dessa crise, que estão procurando formas de apoiarmos com outros barcos, mais fortes, com tripulação e comando adequado, que tenham melhores condições de efetuarem o devido resgate e trazerem com mais segurança todos até o porto seguro.
Enfim, como ser conciso nesse mar tão revolto!
[1] CORONEL QOEM Res Brigada Militar/RS e Especialista INTEGRAÇÃO E MERCOSUL/UFRGS