Número de brigadianos feridos e ameaçados cresceu 395% entre 2022 e 2024 no RS 

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Dado leva em conta número de policiais que procuraram programa que oferece acolhimento e proteção aos PMs que sofreram algum tipo de ataque e seus familiares

Jean Peixoto GZH

Na noite de 22 de outubro, os policiais militares Éverton Kirsch Júnior e Rodrigo Weber Volz, ambos de 31 anos, receberam um chamado para atender ocorrência de briga familiar. Eles se deslocaram até o endereço indicado, no bairro Ouro Branco, em Novo Hamburgo. Enquanto os PMs conversavam com Cleris Crippa, 70 anos, e Eugênio Crippa, 74, foram surpreendidos pelo filho do casal, Edson, 45, que disparou contra os brigadianos e familiares.

Os dois brigadianos foram atingidos pelos tiros. Kirsch morreu no local. Volz chegou a receber atendimento e ser encaminhado ao hospital, mas não resistiu. 

Além deles, os agentes Joseane Muller, 38 anos, atingida no braço e João Paulo Farias Oliveira, 26, ferido na cabeça, precisaram ser hospitalizados. Os PMs Eduardo de Brida Geiger, 32, Leonardo Valadão Alves, 26, e Felipe Costa Santos Rocha também receberam atendimento médico após serem atingidos de raspão, mas foram liberados na sequência. 

Ainda que tenha se destacado pela gravidade, o caso ilustra o aumento da violência contra policiais no RS. De janeiro a outubro de 2024, 638 PMs procuraram o programa PM Vítima, da Brigada Militar, relatando ter sido alvo de algum tipo de violência e ameaça. Nos primeiros 10 meses de 2022 — ano em que o levantamento teve início — haviam sido 129, o que representa aumento de 395%.

O número de PMs mortos passou de quatro de janeiro a outubro de 2022, para cinco no período em 2023, mesmo número registrado em 2024. 

— Toda morte de policial enseja um estudo de caso e a verificação dos nossos protocolos. Estamos estudando possíveis melhorias. Mas o que houve em Novo Hamburgo foi algo completamente atípico. Ele (o atirador) tinha uma visão privilegiada e utilizou do elemento surpresa para abater dois dos nossos policiais — sublinha o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Cláudio dos Santos Feoli.

Os indicadores contabilizados pela PM são divididos da seguinte forma:

  • PMs mortos
  • PMs feridos em serviço:  agregam os policiais que foram atingidos por pedradas, pauladas, arma branca ou algum outro tipo de agressão
  • PMs baleados: são aqueles que foram alvo de disparos de arma de fogo
  • PMs Vítimas: reflete as denúncias de policiais sobre as violências e ameaças sofridas, sejam agressões físicas, psicológicas ou ameaças por parte de grupos criminosos. 

É a partir desse último indicador que a Brigada Militar toma medidas de acolhimento e amparo aos agentes agredidos em serviço e repressão aos criminosos (veja gráfico abaixo)

Violência contra policiais militares

Crimes aconteceram no RS entre janeiro e outubro de 2022, ano em que dados passaram a ser contabilizados, a 2024

O corregedor-geral da BM, coronel Vladimir Luís Silva da Rosa, pontua que no início do programa PM Vítima houve maior resistência por parte dos agentes para se declararem como alvo de violência, o que explica a diferença observada. 

Redes Sociais/ Montagem / Arquivo Pessoal
Policiais militares Rodrigo Weber Volz (E) e Éverton Kirsch Júnior (D) foram mortos em serviço.Redes Sociais/ Montagem / Arquivo Pessoal

Programa de acolhimento

Com o objetivo de oferecer acolhimento e proteção aos brigadianos vítimas de violência, em 2022 foi implementado o Programa de Valorização e Proteção Institucional PM Vítima. 

Dados da Corregedoria-Geral da Brigada Militar, que é responsável pelo programa, apontam aumento expressivo nos casos de violência contra policiais militares. A BM passou a estimular que os PMs que foram alvo de algum tipo de violência ou ameaças efetuassem o registro do fato. 

O corregedor-geral da BM pontua que o ingresso no programa é voluntário. Essa participação inclui a denúncia da agressão, amparo médico, psicológico, psiquiátrico e proteção em casos de ameaças. A exceção existe quando se trata de uma situação grave — como a chacina de Novo Hamburgo — em que os policiais são incluídos compulsoriamente no programa. 

O atendimento também é estendido às famílias dos PMs. O programa no RS foi instituído a partir do trabalho desenvolvido pela Polícia Militar de São Paulo, que foi pioneira no tema. 

— A proposta foi apresentada pela corregedoria e acolhida pelo Comando-Geral e o Conselho Superior da Brigada Militar. Quando o criamos, o programa tinha apenas uma página com 16 artigos e, agora, já são 20 páginas. O sistema convencional da BM precisa ter a mão forte, mas também precisa acolher os seus agentes — destaca o coronel Vladimir Luís Silva da Rosa.

O comandante Feoli acrescenta que os agentes também recebem apoio dos Batalhões de Operações Especiais e de Choque, que reforçam o policiamento das regiões em que os criminosos atuam, com o objetivo de neutralizar ameaças aos PMs.

Armamento e tráfico de drogas

Outro indicador que demonstra o avanço da violência contra policiais é o número de confrontos armados com a BM que aumentou 35% nos últimos três anos, passando de 411 nos primeiros 10 meses de 2022 para 556 no mesmo período de 2024. O comandante da BM avalia que o aumento é puxado pela ação do crime organizado.

Segundo o comandante, até outubro, foram apreendidas pela Brigada 4.065 armas em todo o RS. Destas, 43 são fuzis.

— Esse quantitativo é crescente e demonstra o quanto a nossa atividade é de risco e trabalha nos extremos da segurança. Invariavelmente, essas armas apreendidas estão nas mãos de traficantes, principalmente na Região Metropolitana, no Vale do Sinos e na Serra — sublinha Feoli.

O comandante também pondera que a proliferação de discursos que descredibilizam a atuação da Brigada Militar pode incitar a violência contra os policiais. 

Esperamos da sociedade o reconhecimento para esses trabalhadores que dão a própria vida para defender pessoas que eles nem mesmo conhecem. Ser da Brigada não é uma profissão, e sim uma vocação.

CORONEL CLÁUDIO DOS SANTOS FEOLI

Comandante-geral da Brigada Militar

Câmeras corporais

Em 30 de setembro, agentes da Brigada Militar de Porto Alegre passaram a usar câmeras corporais acopladas em seus uniformes. Os dispositivos registram imagens em alta resolução que podem ficar armazenadas por até um ano. O uso dos equipamentos oferece mais segurança para a comunidade e também aos policiais, que têm o registro das abordagens na íntegra.

Para o comandante-geral da BM, embora a câmera possa auxiliar na compreensão da dinâmica do fato criminoso, em situações de violência extrema, como o ataque no Vale do Sinos, o dispositivo não teria impacto significativo.

— Nesses casos recentes, não vejo a câmera como uma forma de proteção. Acredito que não faria diferença — comenta Feoli. 

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