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Secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul está de saída do cargo

Delegado Sandro Caron vai tirar licença de interesse pessoal, para atuar na iniciativa privada

Humberto Trezzi GHZ

O secretário estadual da Segurança Pública, Sandro Caron, vai deixar o cargo nos próximos dias. Delegado da Polícia Federal, licenciado, ele aceitou convite para trabalhar na iniciativa privada, em São Paulo. Como tem 50 anos e ainda não acumula tempo para se aposentar, ficará em licença não remunerada até virar inativo.

Caron vai sair no auge. Ele comanda a secretaria desde janeiro de 2023. Nesses mais de dois anos conseguiu os melhores indicadores de segurança pública em uma década e meia. No ano passado foram alcançadas as maiores quedas em números de crimes desde 2010. 

Um exemplo disso é a taxa de homicídios, que já foi de 28,1 mortes por 100 mil habitantes, em 2017 – a época da guerra de facções com cabeças cortadas e largadas pelas ruas de Porto Alegre. A taxa na Capital está, agora, em 10 assassinatos por 100 mil habitantes, número comparável ao de países de Primeiro Mundo, conforme padrões da Organização das Nações Unidas (ONU). A média do Brasil é 21 homicídios por 100 mil habitantes.

Outros crimes também estão em queda. O ano de 2024 teve redução de 26% nos latrocínios (mortes durante assaltos), 41% nos roubos a pedestres e 37% nos de veículos. A tendência de diminuição permanece em 2025. Na manhã desta quinta-feira (9), Caron divulgou as estatísticas acumuladas deste ano. Até setembro, a redução em relação ao ano passado é de 25% nos homicídios, 11% nos latrocínios, 15% nos roubos a pedestres e 41% nos ataques a agências bancárias. O único a subir, dos principais crimes, é o feminicídio: 21%, maior desafio da segurança pública no momento.

O maior mérito da redução nas estatísticas de crimes é do programa RS Seguro, lançado durante o governo Eduardo Leite e impulsionado por Caron. O projeto direciona policiais para as cidades mais violentas, sufoca pontos quentes de tráfico e homicídio, implanta sistemas de vigilância eletrônica e com câmeras nas principais estradas e avenidas e castiga lideranças criminosas com rigidez na prisão e sua responsabilização por assassinatos cometidos por subordinados.

Natural de Porto Alegre, Caron ingressou na Polícia Federal em 1999. Formado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Caron tem pós-graduação em Gestão de Políticas de Segurança Pública.

Atuou na Coordenação da Segurança da Copa do Mundo de 2014, no Rio Grande do Sul, e coordenou o serviço antiterrorismo nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016.

Caron foi Delegado Regional Executivo no Rio Grande do Norte e Superintendente Regional no Ceará. No Rio Grande do Sul foi Diretor de Inteligência da PF e atuou por mais de três anos na Embaixada do Brasil em Portugal.

Em setembro de 2020 assumiu a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), cargo que ocupou até o final de dezembro de 2022. E depois veio para o Rio Grande do Sul, exercer a mesma função.

Ainda não há definição sobre o futuro secretário da Segurança Pública, até porque a saída de Caron do cargo não foi formalizada. A interinidade deve ser tocada pelo atual secretário adjunto, Mário Ikeda (coronel da reserva da BM).

Sandro Caron, secretário estadual da Segurança Pública: “Eu já tinha decidido que, quando saísse, ia me testar na área privada”

Delegado explica por que deixa o comando da área de segurança do Rio Grande do Sul e quais seus planos agora

O secretário estadual da Segurança Pública, Sandro Caron, pegou muitos subordinados de surpresa ao confirmar nesta quinta-feira (9) que vai deixar o cargo.

Os mais próximos, claro, já sabiam. Mas o motivo da saída, ressalta ele, é bom.

— O cavalo passou encilhado, para usar uma expressão muito comum aqui no Rio Grande do Sul — explica.

Caron se refere a um convite “irrecusável” que recebeu para atuar na iniciativa privada.

Aos 50 anos e faltando pouco para se aposentar, ele pediu licença não remunerada da Polícia Federal, onde fez carreira como delegado, e dispensa da função de secretário do Estado, que ocupava há quase três anos. Sai no auge, com reduções sucessivas nas estatísticas de crimes.

Aqui, resumo da entrevista exclusiva a Zero Hora:

O que o levou a sair?

Eu tinha já como foco que, o dia em que saísse daqui, queria tentar fazer essa transição para a iniciativa privada. E, numa expressão que a gente usa muito aqui, o cavalo passou encilhado. E a gente teve que aproveitar o convite recebido na iniciativa privada lá em São Paulo, uma empresa que está se estruturando exatamente agora e precisava de alguém da área de segurança. No caso, chegaram a mim, se iniciaram as tratativas, as conversações. E, claro, desde o início eu fui mantendo o governador informado, porque a gente tem uma relação de muita parceria e lealdade.

Como será a transição?

Nós fomos pensando em como fazer uma eventual transição e acabou que eu aceitei o convite. Aí eu comuniquei ao governador, e a gente começou com muita calma a pensar nessa transição. Porque a gente sabe que trocar um secretário da Segurança não é uma coisa que se possa fazer muito rápido. Para ter solução de continuidade. Isso é o mais importante.

Por enquanto permanece o coronel Mário Ikeda como secretário?

Por enquanto está o Ikeda (atual secretário adjunto), é isso. Fica na interinidade. Agora o governador vai avaliar, e já deve estar avaliando aí quem vem para o meu lugar.

Gabriel Centeno / SSP
Atual adjunto, Mário Ikeda será interino na SSP até decisão do governador.Gabriel Centeno / SSP

O senhor sai satisfeito?

Eu estou muito satisfeito, porque coloquei exatamente como o último desafio da minha carreira ser secretário aqui no meu Estado. Então, a gente poder contribuir, ter essas quedas históricas no número de crimes, poder também sair no auge e entregar alguma melhora para o Estado nos deixa muito feliz.

Eu também já vinha há horas avaliando que o momento era de buscar essa transição. Eu tenho 50 anos e não tenho ainda a condição de me aposentar na Polícia Federal, mas o diretor-geral me concedeu licença para interesses particulares. É uma licença sem vencimento, eu fico autorizado a trabalhar na iniciativa privada. A PF avaliou, e a licença foi publicada no dia de hoje. É um novo desafio, uma nova fase da minha carreira, após 27 anos no serviço público. E eu já tinha há muito tempo decidido que, quando saísse da secretaria, iria tentar me testar na área privada. Poderei me aposentar da PF aos 53 anos.

A empresa em que o senhor vai trabalhar é uma multinacional?

É uma empresa que está se estabelecendo em São Paulo. Por questões de sigilo, eu ainda não posso mencionar qual, mas é uma empresa que vai ser feita aqui no Brasil, que vem exatamente tentar desenvolver algo impactante na área de segurança pública para o Brasil. Inclusive, nós temos pessoas de fora, brasileiros que estavam fora do país e estão voltando para trabalhar. Eu também aceitei, porque eu imagino que vou poder seguir contribuindo para a segurança pública, agora em outro local.

Quero também deixar claro que a gente já vinha há cinco anos como secretário. Eu emendei o Ceará (onde foi secretário da Segurança) com aqui, então a gente acha que já conseguiu dar contribuição. Que era o momento de ir para este segundo tempo da minha carreira. E realmente eu já tinha decidido que, quando eu saísse aqui da secretaria, eu não queria mais trabalhar no público, eu ia tentar algo no privado.

Como o senhor avalia os números da segurança?

Ivan Pacheco / Agencia RBS
Sandro Caron deixa SSP para seguir carreira na iniciativa privada.Ivan Pacheco / Agencia RBS

A gente fica muito feliz de poder terminar a missão divulgando os indicadores de setembro. A gente teve o mês mais seguro da história novamente. Já tínhamos batido esse recorde em agosto, como o mês mais seguro, e agora, em setembro, a gente teve novamente. Queda histórica.

Em relação a homicídios e roubos de veículo, setembro deste ano, quando eu comparo com setembro do ano passado, a gente teve uma redução de 50%. Quero destacar que o Rio Grande do Sul tem um programa muito bem estruturado, que é o programa RS Seguro, e tenho certeza continuará colhendo bons indicadores. Ele nem é mais um programa de governo, ele é de Estado. E quero agradecer a todo o apoio do governador Eduardo Leite, com os investimentos.

A saída é para já ou o senhor vai ficar um tempo ainda em Porto Alegre?

A ideia é que agora, nos próximos dias, haja esta definição e esta troca definitiva no cargo. Porque a gente sabe que a segurança pública é uma área que não pode ficar muito tempo com essa indefinição. E o governador vai tomar rapidamente a decisão de quem assume a secretaria no meu lugar.

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