Agentes relatam dificuldades até para acessar a internet
Vitor Rosa GZH
A precariedade das instalações da Polícia Civil do Rio Grande do Sul tem afetado diretamente o trabalho de agentes em Porto Alegre. Delegacias com infiltrações, salas interditadas e até departamentos sem sede revelam a realidade enfrentada pelos profissionais da segurança pública.
Na 14ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, na zona norte da Capital, o mofo tomou conta da sala de investigações. A umidade descasca a tinta do teto e compromete móveis.
Depoimentos são colhidos em salas improvisadas, sem conforto ou privacidade. Policiais relatam dificuldades até para acessar a internet.
Delegacias em situação crítica
Na 16ª Delegacia de Porto Alegre, no bairro Restinga, as portas foram roídas por cupins, e as paredes apresentam rachaduras. A pintura, que parece recente, foi feita pelos policiais, com recursos próprios.
— Para não ficar um ambiente tão insalubre, tão deprimente, os próprios policiais se cotizaram e pintaram as paredes da delegacia — afirmou Guilherme Wondracek, presidente da Associação dos Delegados de Polícia.
O Palácio da Polícia, sede histórica da administração da corporação, também enfrenta problemas. O terceiro andar está interditado há mais de um ano, com móveis amontoados e telhado coberto por lona.
O gabinete da chefia foi esvaziado em abril e permanece fechado.
O Departamento de Investigações Criminais (Deic), responsável por apurações contra o crime organizado, está sem endereço fixo desde o ano passado. A sede original foi alagada durante uma enchente, e a provisória, destruída por um incêndio em dezembro.
Promessas de reforma
O chefe de Polícia do RS, delegado Heraldo Chaves Guerreiro, reconheceu que algumas delegacias de Porto Alegre possuem problemas, especialmente a 14ª, a 15ª e a 16ª. Segundo ele, os processos de reforma da 14ª e 15ª estão em fase de contratação. Sobre a 16ª, o delegado não comentou sobre possíveis reparos.
— A Polícia tem olhado para essas estruturas e procurado junto ao governo as melhorias necessárias — diz.
Sobre o Deic e o Palácio da Polícia, Guerreiro prometeu soluções em breve.
— Estamos em tratativas e nos próximos dias teremos boas notícias. O Palácio da Polícia está em reforma e a previsão é que esteja pronto até maio de 2026 — declarou.
Improvisos em operações
A falta de estrutura já impactou operações importantes. Durante um caso de sequestro em Gravataí, os policiais não tinham sala para atuar e usaram a sede da Associação dos Delegados como base improvisada.
— Eles passaram a madrugada lá, não tinham onde ficar — relata Wondracek.